África, China e a RCEP: o que o Brasil tem a ver com tudo isso?
- Pedro Papastawridis

- 18 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Enquanto o Brasil dá caneladas nas relações com parceiros comerciais de peso como China, União Europeia, Argentina e, mais recentemente, os Estados Unidos de Joe Biden, o mundo recebe a notícia de que avançam as negociações para a formação de mais dois blocos econômicos: a Zona de Livre Comércio Continental Africana (ZLCCA) e a Parceria Econômica Regional Abrangente (cuja sigla em Inglês é RCEP).
No caso da ZLCCA, trata-se de um acordo ratificado, até o momento, por 30 nações africanas, cuja entrada em vigor está prevista para 1° de janeiro de 2021. Em termos econômicos, a ZLCCA englobará um produto interno bruto (PIB) equivalente ao do Mercosul, o que aumentará consideravelmente o poder de barganha dos países do bloco africano perante as demais nações e blocos com os quais transacionam atualmente.
No tocante à RCEP, trata-se de um acordo comercial ainda mais amplo em termos econômicos, pois abarca 15 países que respondem por cerca de 30% do PIB e da população mundial, sendo China e Japão os dois principais países dessa parceria. Futuramente, a RCEP ainda poderá contar com a adesão da Índia, que saiu das negociações para a formação do bloco no ano passado, o que robusteceria a abrangência territorial, populacional e econômica dessa parceria que já nasce maior que a União Europeia e o Nafta.
Do ponto de vista geopolítico, trata-se de mais uma vitória da China sobre os Estados Unidos, na medida em que o Dragão Asiático amplia sua influência político-econômica sobre a região do Pacífico, outrora dominada geopoliticamente pelos ianques. Ademais, trata-se de uma resposta de Pequim à desistência de Donald Trump em relação ao Acordo de Associação Transpacífico (TPP), que vinha sendo costurado pela administração Obama com o propósito de ampliar a influência americana sobre o Pacífico e reduzir a influência comercial chinesa. Agora, caberá a Joe Biden decidir se retomará as tratativas em torno do TPP, ou estabelecerá alguma aproximação com a RCEP, já que o isolacionismo não é uma sábia decisão quando tratamos de geopolítica mundial.
Quanto ao Brasil, o surgimento de um bloco africano do tamanho do Mercosul e de uma parceria no Pacífico que responderá por quase um terço da economia global reduzirão o poder de barganha dos bens e serviços transacionados pela nação tupiniquim nas principais praças mundiais, isso sem falar que haverá um aumento da pressão dos nossos parceiros de Mercosul para que a nação brasileira cesse os embates ideológicos com outros países latino-americanos e baixe o tom com a União Europeia acerca de temas como meio ambiente e direitos humanos. Caso o Brasil persista com sua atual estratégia política de enfrentamento de moinhos de ventos ideológicos no âmbito internacional, correrá um sério risco de ficar isolado em relação às principais mesas de negociação internacionais. E anão diplomático não dá pitacos em jardim global.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





Comentários