Inteligência artificial e seus reflexos no mercado de data centers
- Pedro Papastawridis
- há 4 dias
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De uns tempos para cá, só se fala nela: a inteligência artificial (IA). Do ChatGPT da OpenAI até a chinesa DeepSeek, milhões de pessoas e organizações do mundo todo vêm se aproveitando diariamente da capacidade de resposta e produção de conteúdo de modelos de IA para resolverem uma série de problemas que a mente humana e os sistemas convencionais não conseguem solucionar de maneira precisa e tempestiva.
Um exemplo de como a IA vem conquistando os corações e se inserindo no dia a dia da vida em sociedade vemos nos conteúdos produzidos pelas IAs generativas. Quem não se lembra da febre que foi a geração de fotos ao estilo “Studio Ghibli” no ChatGPT 4 Omni? Parece que isso foi há mais de uma década, mas tal fenômeno em IA generativa se deu há cerca de 2 meses!
Contudo, nada disso seria possível se não houvesse uma robusta base material apoiada por mão de obra qualificada e bilhões de dólares em investimentos. E é aí que entra em cena o mercado de data centers.
Esse mercado, que já movimenta cifras bilionárias há décadas, ganhou destaque nos últimos meses devido ao crescimento do interesse das big techs e do mercado de capitais em investir nesse tipo de ativo, consequência direta do crescimento e diversificação no uso da IA. Afinal de contas, em que pese um data center de IA possuir muita similaridade em relação aos data centers tradicionais (como os que sustentam sistemas críticos de indústrias dos mais variados setores econômicos), os data centers prontos para IA exigem unidades de processamento gráfico de alto desempenho combinadas com recursos avançados de armazenamento, rede, energia e refrigeração. Segundo a IBM, tais requisitos fazem com que o data center de IA demande metragens (e cifras) muito maiores que um data center tradicional.
Por conta do maior nível de exigência quanto a aspectos como metragem, capacidade de armazenagem e processamento, consumo de energia e governança e gestão de dados, empresas como Amazon, Microsoft, Google e Oracle vêm destinando centenas de bilhões de dólares na aquisição de espaços e insumos, além de treinamento e desenvolvimento de pessoal, de maneira a se manterem na dianteira da infraestrutura necessária ao crescimento projetado no setor de IA. Para ilustrar o exposto aqui, o “Projeto Stargate”, fruto de uma joint venture entre a OpenAI, a Oracle e a japonesa SoftBank, anunciou em janeiro deste ano a intenção de investir US$ 500 bilhões em infraestrutura de inteligência artificial nos Estados Unidos ao longo dos próximos 4 anos.
E como o Brasil pode embarcar nessa corrida do bilhão?
Além de precisar desburocratizar o ambiente de negócios interno e aumentar a segurança jurídica a níveis aceitáveis e sustentáveis, nosso país tem que investir massivamente na formação de capital humano qualificado nas áreas de engenharia, matemática e tecnologia da informação. Atualmente, o Brasil forma de maneira deficiente mão de obra nessas áreas, repetindo um erro cometido no início dos anos 2010, quando o setor de petróleo e gás carecia de mão de obra em quantidade e com qualidade para impulsionar a exploração e produção de petróleo e gás oriundos do pré-sal brasileiro.
Apesar dos gargalos apontados acima, um ponto favorável a nosso país e que deve ser fomentado na atração de investimentos em data centers operados nacionalmente diz respeito à geração de energia que alimentará essas instalações. Com o uso progressivo da IA, o consumo de energia tende a escalar no setor de data centers, demandando respostas rápidas e ecologicamente equilibradas no tocante ao suprimento de energia. E nosso país possui muito potencial em energias verdes como eólica e solar. Tem que saber e querer aproveitar esse potencial!
Por fim, o Brasil precisa formular incentivos legais e fiscais à formação de hubs tecnológicos em torno de data centers de IA que venham a se instalar em nosso país, tal como a China fez ao estruturar cadeias de valor locais que passaram a apoiar as zonas econômicas especiais que se estabeleceram no país a partir dos anos 1980. Sem isso, o Brasil corre o risco de “ver da calçada da padaria” o frango sendo assado dentro desses data centers, enquanto Estados Unidos, China e Japão desfrutarão dos benefícios de longo prazo da revolução promovida pela IA na indústria de tecnologia da informação em sentido amplo.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!
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