Tensões entre China e Taiwan e como isso pode impactar as economias nacionais
- Pedro Papastawridis

- 15 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Desde que a Presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, pousou em solo taiwanês no último dia 02/08, o governo de Pequim aumentou as animosidades com a ilha de Taipei e subiu o tom em relação a Washington. E isso pode impactar não só na política e na economia dos países envolvidos, mas também em grande parte das cadeias globais de valor.
Com a vitória da revolução socialista de Mao-Tsé Tung contra o governo de Chiang Kai-Shek em 1949, este se refugiou com cerca de 2 milhões de chineses na ilha de Taiwan, localizada a um pouco mais de 150 km do litoral da China continental. Em Formosa, como também é conhecida Taiwan, formou-se um governo autônomo com o apoio dos Estados Unidos.
Com o desenvolvimento econômico da China continental (República Popular da China - RPC) e a retomada de uma série de relações internacionais de Pequim com o restante do mundo nos anos subsequentes à revolução de Mao-Tsé Tung, ganhou força na China socialista o “princípio de uma só China”, segundo o qual existe apenas uma China (a RPC), que é a detentora da soberania sobre territórios de Hong Kong, Macau e a “República da China” (Taiwan). Com isso, os demais Estados nacionais passaram a manter um distanciamento diplomático de Taiwan, a fim de evitar conflitos geopolíticos e negociais com os socialistas de Pequim.
Apesar das restrições político-econômicas que a China continental impôs ao longo dos anos ao governo de Taipei, isso não impediu Formosa de se tornar uma ilha que respira valores democráticos e uma das economias mais dinâmicas da região do Pacífico. Com uma população de, aproximadamente, 23,5 milhões de habitantes e um PIB estimado em US$ 700 bilhões, Taiwan possui cerca de 1,66% da população e 4% do PIB da República Popular da China, o que mostra o gigantismo econômico e demográfico de Pequim em relação a Taipei. Contudo, a ilha de Taiwan é considerada um celeiro de inovação, respondendo por quase 2/3 da produção mundial de semicondutores, que compõem os chips que integram os mais variados dispositivos tecnológicos que fazem parte do nosso cotidiano (smartphones, TVs, videogames, automóveis, etc.).
Com o agravamento das tensões entre a República Popular da China e a República da China, não só as cadeias globais de valor que dependem dos semicondutores taiwaneses seriam afetadas com uma escassez prolongada desses insumos, mas também a circulação de grande parte de bens e serviços consumidos em todo o mundo, uma vez que o tráfego marítimo na região do litoral da China continental ficaria comprometida. Com isso, diversos artigos produzidos e enviados para o resto do mundo por países como Japão, Coreia do Sul, Malásia, Singapura e Vietnã sofreriam atrasos em suas entregas, comprometendo quase todo o globo terrestre. E tanto a escassez quanto os atrasos de bens e serviços advindos do Leste e Sudeste Asiáticos podem impulsionar um quadro de estagflação em diversos países da Europa e América, incluindo o próprio Brasil.
Diante do exposto, o momento global é de cautela em relação a mais esse conflito, que se somaria à persistente guerra da Rússia contra a Ucrânia. Para os países, cabe reforçar os esforços diplomáticos para apaziguarem os ânimos entre Pequim e Taipei. Quanto às empresas, cabe reforçar o caixa, manter um nível seguro de estoques de insumos relacionados com o mercado asiático e garantir hedge econômico-financeiro. Quanto às famílias, o momento é de contenção de gastos e de evitar projetos que envolvam endividamento indexado ao câmbio, à inflação ou à Selic.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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