Quebra do Silicon Valley Bank e o fantasma do subprime de volta ao cenário econômico global
- Pedro Papastawridis

- 13 de mar. de 2023
- 4 min de leitura
Em 2007, enquanto vários países prosperavam com o boom das commodities, o sistema financeiro americano enfrentava sérias dificuldades resultantes da quebradeira de instituições que ofereciam crédito imobiliário com alto risco, baixo retorno e pouco critério para concessão de recursos. Essa crise financeira, que se alastrou para o restante do mundo entre 2007 e 2009, ficou conhecida como “Crise do Subprimes”, devido ao título de crédito que desencadeou esse processo, isto é, as hipotecas americanas concedidas de maneira desenfreada pelo setor financeiro local.
Na esteira dessa quebradeira, instituições que não operavam esses títulos, mas sim carteiras de investimentos lastreadas por esse tipo de crédito também sofreram pesadas perdas financeiras e em valor de mercado, o que levou bancos centrais e governos de diversos países a intervirem em seus respectivos sistemas financeiros nacionais e injetarem recursos dos pagadores de impostos. Com isso, grande parte do mundo sofreu durante anos com a estagnação econômica e o desemprego resultantes do “remédio amargo” que países tiveram que implementar para manter a estabilidade no sistema financeiro, casos de Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Islândia.
Dezesseis anos após o início da crise dos subprimes americanos, o coração do capitalismo mundial se vê diante de um novo episódio de quebra de instituição financeira que movimenta bilhões de dólares em operações de crédito. Trata-se do Silicon Valley Bank (SVB), sediado no Estado da Califórnia (EUA), mas com filiais em outros estados americanos e no Reino Unido.
Para quem se acostumou com nomes de instituições financeiras americanas após a crise dos subprimes, como Citibank, JP Morgan e Bank of America, talvez se pergunte qual é a importância desse SVB. E a explicação é bem simples e direta. O Silicon Valley Bank é uma das principais financiadoras de startups de tecnologia em solo americano. Segundo a CNN Brasil, essa instituição financeira fundada em 1983 Forneceu financiamento para quase metade das empresas americanas de tecnologia e saúde apoiadas por capital de risco, com um total de ativos gerenciados na casa dos US$ 200 bilhões. Isso equivale a mais de R$ 1 trilhão de reais, a cotação atual do dólar no Brasil, o que torna esse banco, segundo a própria CNN Brasil, um dos 20 maiores bancos comerciais dos Estados Unidos.
E o que impulsionou o processo de quebradeira do SVB?
Como se trata de uma instituição que fomenta muitos empreendimentos em fase pré-operacional ou em começo de operação, ela acaba lidando com riscos em carteira muito elevados, apesar do retorno financeiro potencial que startups de tecnologia podem proporcionar em caso de êxito. Em vista disso, o sucesso financeiro tanto da financiadora quanto das financiadas passa por um cenário de juros baixos, o que se deteriorou com o processo inflacionário que atingiu uma boa parte do mundo de 2022 para cá. Para conter a inflação, bancos centrais dos Estados Unidos, Europa e do nosso Brasil começaram a elevar suas respectivas taxas básicas de juros, o que encareceu o custo do crédito contraído por pessoas físicas e jurídicas.
No caso das startups, qualquer aumento de juros bancários gera uma pressão muito grande em seu fluxo de caixa, devido ao crescimento das despesas financeiras em meio a um momento de baixo nível de receitas. E aumento de despesas numa situação como essa acaba resultando em prejuízos crescentes e queima de caixa, o que acaba resultando em mais endividamento e, no extremo, em insolvência seguida de falência dessas empresas. Logo, quem financia esses empreendimentos acaba sofrendo perdas contábeis e financeiras que geram o sinal de alerta não só em investidores do próprio banco, mas sobretudo nos correntistas, provocando um efeito manada de retirada de recursos da instituição financeira. E isso acaba em perda de liquidez e, no caso do SVB, na falência do banco.
Paralelamente a isso, outras instituições que atuam em setores congêneres aos financiados pelo SVB também passam por monitoramento e intervenção dos órgãos reguladores americanos, caso do Signature Bank, que mantinha contas da bolsa de criptomoedas FTX, instituição que entrou em colapso no ano passado. Com um total de ativos gerenciados superior a US$ 100 bilhões de dólares, o Signature Bank foi fechado pelos reguladores financeiros do estado de Nova York ontem (12/03/2023), causando surpresa no gestores do banco.
E como as situações acima podem impactar o Brasil?
Apesar de ainda ser considerado remoto, um cenário de deterioração do sistema financeiro americano poderia desencadear o mesmo processo de baixas contábeis e perdas financeiras em instituições de outros países que financiam startups ou possuem ativos lastreados em créditos e/ou participações nesse tipo de empresas. No caso tupiniquim, tal propagação desse risco sistêmico se somaria ao episódio de inadimplência e inconsistências contábeis das Americanas (AMER3), agravando as perdas de fundos e aplicações lastreados em direitos creditórios e restringindo ainda mais a concessão de crédito para pessoas físicas e jurídicas num momento em que a retomada da confiança entre credores e devedores se faz tão necessária para a retomada do crescimento econômico nacional em bases sustentáveis.
Diante do cenário descrito acima, é preciso cautela por parte de muitos, mas também vigilância por parte dos órgãos reguladores do mercado de capitais brasileiro, políticas monetárias mais efetivas por parte do Banco Central e políticas econômicas e sociais mais efetivas por parte do governo brasileiro.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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