Quando a porrada na imprensa se reflete no povo e na democracia
- Pedro Papastawridis

- 25 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
No último domingo (23/08/2020), enquanto fazia uma aparição pública, o Presidente Jair Messias Bolsonaro foi questionado por um jornalista do Grupo Globo sobre uma série de depósitos feitos por seu ex-faz-tudo, Fabrício Queiroz, na conta de Michelle Bolsonaro. Ao todo, Queiroz e sua esposa teriam depositado, entre 2011 e 2016, um total de R$ 89 mil na conta da primeira-dama.
Instantaneamente, Bolsonaro fechou a cara, demonstrou desconforto com o questionamento do jornalista e direcionou a seguinte declaração ao profissional de imprensa:
− Minha vontade é encher tua boca na porrada!
Quem ocupa uma função pública e a desempenha, precisa entender que existem coisas que não devem ser pensadas, tampouco faladas. E ameaçar um profissional que está trabalhando é uma dessas coisas.
Que Bolsonaro não tem preparo e envergadura para ocupar a cadeira em que está sentado, já é sabido pelo cidadão esclarecido. Porém, isso não deve ser normalizado, muito menos esquecido. Afinal de contas, estamos falando do atual Chefe de um Estado democrático de Direito com cerca de 210 milhões de pessoas, que dependem do bom trabalho de um Presidente da República para tocarem suas vidas com dignidade. E ignorar o desleixo com que Bolsonaro e seus lacaios lidam com a morte humana e o trabalho alheio é ser cúmplice de uma escalada autoritária que só tende a terminar quando o Brasil se tornar uma Venezuela ou um Haiti.
Enquanto este texto é redigido, cerca de 115.000 brasileiros já morreram por causas ligadas à Covid-19, milhões estão desempregados, outros milhões estão na informalidade e mais alguns milhões sequer têm o que comer regularmente. No entanto, Bolsonaro sai para comer cachorro-quente e gravar materiais para posar de humilde nas redes sociais, parlamentares garimpam cargos e verbas em parceria com militares de alta patente e membros do Judiciário tomam espumante e jantam com advogados amigos e sócios de grandes bancas de advocacia.
Quanto ao povo, restam os impostos, a obrigação de votar e alguns programas assistenciais que não fazem frente à carga tributária que cada brasileiro carrega diariamente e que não chegam perto do custos que os “nobres” Presidente, deputados, senadores e magistrados representam para o Estado brasileiro. Para ser mais claro e direto: enquanto você lê este texto, está pagando algum tributo ao Estado. E grande parte desse tributo está indo para bancar os rolezinhos do Bolsonaro, as rachadinhas de inúmeros parlamentares e o exército de assessores, a água gelada, o café quente, a segurança e os motoristas a serviço de juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores.
Não existe almoço grátis quando o assunto é dinheiro público, caros leitores! Dinheiro público é dinheiro do povo que deveria ser empregado em benefício do povo, e não em benefícios de “Excelências” bem acomodadas em gabinetes, carros de luxo e voos de helicóptero e em aviões da Força Aérea Brasileira.
Se é difícil entender o exposto acima e aceitar que todo poder emana do povo e a este deve servir, sinto dizer, mas você já se tornou gado do sistema. Pense nisso e não permita que a porrada que um político ameaça dar num jornalista represente a escalada de um abuso autoritário que dá porrada todos os dias no bolso e na vida dos brasileiros e na democracia do país.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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