top of page

O livro de Mandetta e a cultura da arapongagem

  • Foto do escritor: Pedro Papastawridis
    Pedro Papastawridis
  • 25 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

O ex-Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está lançando um livro sobre os bastidores da luta contra o coronavírus. Sobre isso e outros assuntos correlatos, ele concedeu uma entrevista ao Jornal O Globo.

Contudo, um dos pontos que mais chamaram a atenção nessa conversa de Luiz Henrique Mandetta sobre o seu livro é a suspeita que o médico e ex-parlamentar levanta em sua obra acerca de ter sido espionado por Bolsonaro. Para Mandetta, tal suspeita se baseia num episódio em que o Presidente foi numa padaria em o ex-ministro fora fazer compras quatro dias antes. Todavia, a referida padaria fica muito distante do Palácio do Planalto, o que não foi impeditivo para Jair Bolsonaro ir lá, comer no balcão e criar aglomeração no local, em contraposição às recomendações de distanciamento social que Luiz Henrique Mandetta costumava dar em suas coletivas no Ministério da Saúde.

Será que isso foi só uma rara coincidência típica de Brasília? Ou será que Mandetta foi mais uma vítima da arapongagem que permeia as relações nos bastidores da política e da Administração Pública?

Para quem nasceu no Rio de Janeiro e possui mais de 30 anos, sabe da presença ostensiva do jogo do bicho em diversos pontos da capital fluminense, em que pese se tratar de atividade ilícita, assim como os bingos e os caça-níqueis. No entanto, isso nunca foi impeditivo para bicheiros explorarem bancas de jogo de bicho, tampouco obstáculo para traficantes e milicianos explorarem bingos clandestinos e caça-níqueis. Não por acaso, são constantes as operações policiais, dia após dia, ano após ano, para coibir essas práticas que parecem mais avançar que retroceder. E um exemplo do enxuga-gelo que tem sido a atuação da polícia nesse âmbito é o crescente lobby pela legalização dos bingos e dos cassinos em Brasília, que também conta com a pressão política e econômica de lobistas ligados à jogatina nos Estados Unidos.

E como se explica tamanha escalada do poder paralelo de bicheiros, traficantes e milicianos nas atividades supracitadas? Essa explicação remonta à prática da arapongagem, feita, muitas vezes, por agentes da própria segurança pública.

Do “menor do radinho” até o policial federal que atua nos bastidores da corporação para levantar informações de alvos políticos, a arapongagem vem se mostrando o combustível nefasto que incendeia a indústria dos dossiês e do assassinato de reputações. Trata-se de um universo composto por cidadãos e agentes públicos que operam a serviço de projetos políticos e a desserviço do Brasil, com o propósito de produzir inteligência, contrainteligência e apoio estratégico a grupos políticos e organizações criminosas. E isso precisa ser neutralizado, sem o qual o combate à corrupção e ao crime organizado sempre estarão comprometidos pela ação de arapongas dentro e fora da máquina pública.

Mais detalhes sobre essa história relatada por Luiz Henrique Mandetta talvez estejam presentes no livro a ser lançado por ele. Quanto ao modus operandi da arapongagem, a História de Aldir Inácio no livro “República das Banânias” pode ajudar a entender melhor como essa engrenagem opera às sombras de um Estado nacional.

Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

Comentários


Não é mais possível comentar esta publicação. Contate o proprietário do site para mais informações.
Logomarca 1.jpg

©2020 por Pedro Papastawridis em: Blog do Papa (blogdopapa.com).

bottom of page