O leite condensado do Jair e a falência gradual do Estado brasileiro
- Pedro Papastawridis

- 27 de jan. de 2021
- 3 min de leitura
Apesar de todo o esforço do governo brasileiro em minar ações de enfrentamento da corrupção como a Lava Jato e reduzir a transparência sobre seus gastos e ações, ainda existe espaço para a sociedade civil fiscalizar e cobrar do Poder Público respeito e responsabilidade com o voto do eleitor e o dinheiro do contribuinte.
Um exemplo do exposto acima vimos no noticiário nacional ontem (26/01/2021): o Portal Metrópoles, especializado em notícias do ambiente político de Brasília, divulgou um levantamento com os gastos que o governo federal realizou com a compra de gêneros alimentícios em 2020. Ao todo, a administração federal gastou cerca de R$ 1,8 bilhão com produtos como carnes, iogurtes, gomas de mascar e leite condensado.
Para termos uma dimensão socioeconômica do que esses gastos representam, estamos falando de uma quantia que daria para adquirir cerca de 30 milhões de doses da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan e que vem sendo incorporada ao Programa Nacional de Imunização contra a Covid-19. São doses suficientes para imunizar toda a população da Bahia, se considerarmos que cada cidadão precisará tomar duas doses. Ademais, 2020 foi um ano em que diversas repartições públicas colocaram seus colaboradores em regime de teletrabalho, o que reduziu a necessidade de contratações públicas para atender instalações, estruturas e agentes públicos. Todavia, não foi o que vimos na reportagem do Portal Metrópoles, já que esses gastos superaram em 20% o valor desembolsado pelo governo federal com gêneros alimentícios em 2019.
A esta altura dos acontecimentos, Jair Bolsonaro e seus bolsominions já devem estar preparando alguma narrativa para justificar gastos milionários com chicletes e latas de leite condensado, enquanto uma parte da população trabalha para bancar o governo e seus agregados e a outra parte está no bar, na praia, na academia, vendo BBB ou sob cuidados contra a Covid-19. Considerando o modus operandi da máquina de odiar e assassinar reputações bolsopetista (sim, caros leitores: existem petistas e ex-petistas que apoiam esse governo!), é possível prever as narrativas que as redes sociais e os veículos de comunicação submissos ao governo disseminarão muito em breve (e isso sendo bancado com o dinheiro do contribuinte):
1. Foi para garantir o suprimento dos ranchos dos bravos guerreiros das Forças Armadas;
2. No caso do leite condensado, foi para fazer pudim para comitivas de políticos e estados estrangeiros;
3. No caso da goma de mascar, foi para distribuir para as criancinhas e usuários de nicotina em processo de recuperação;
4. A inflação dos alimentos impulsionou a alta dos preços de itens adquiridos pelo governo, apesar de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro negarem a existência de um processo inflacionário em curso no Brasil; e
5. Vocês querem que o PT volte?
É sabido que o brasileiro médio não possui hábitos regulares de gestão de suas próprias finanças, tampouco monitora os gastos que os políticos realizam com o dinheiro do próprio povo. Quem costuma acessar os portais de transparência de gastos públicos e diários oficiais da União, estados, Distrito Federal e municípios não é o dono da barraca de frutas, o açougueiro ou o dentista. Essas pessoas possuem outras preocupações e responsabilidades a cumprir. Logo, fiscalizar a atuação do Poder Público acaba sendo um trabalho desenvolvido por cursinhos preparatórios para concursos, ONGs especializadas na matéria, veículos de comunicação não alinhados com o gestor público de ocasião e alguns cidadãos com tempo, conhecimento e energia para exercerem sua cidadania.
Diante do exposto, figuras como Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e as “Excelências” que integram tribunais e ministérios públicos em todo o país sentem-se à vontade para gastar o dinheiro do contribuinte com veículos oficiais, seguranças, água mineral, café, garçom, vinho, lagosta, goma de mascar e leite condensado. E tudo isso pago com os tributos pagos pelo brasileiro médio, cuja renda mensal gira em torno de dois salários mínimos. E essa equação fica cada vez mais desequilibrada contra o cidadão, na medida em que as regalias dos poderosos só aumentam e a carga tributária também. Isso explica a ambição de Bolsonaro e Paulo Guedes em ressuscitar a CPMF e promover uma “rachadinha” na remuneração do funcionalismo público mediante redução salarial, pois custa muito caro distribuir verbas e cargos para aliados políticos nos Três Poderes, a fim de evitar o impeachment e garantir o projeto de poder de Jair.
Portanto, fica mais esse alerta acerca da falência gradual do Estado brasileiro. Ou a sociedade brasileira se mobiliza contra esse estado de coisas que se assemelha a um regime feudal em pleno século XXI, ou terá que assumir o risco de viver num estado falido e totalitário em questão de anos.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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