Chips e contêineres: como essa dupla pode afetar ainda mais o bolso do brasileiro
- Pedro Papastawridis

- 15 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
Após quase 2 anos de pandemia de Covid-19, o mundo dá sinais de superação dessa crise sanitária, abrindo caminho para a retomada econômica das nações.
Com a retomada econômica, muitas das cadeias de valor que haviam arrefecido entre 2020 e 2021 já superam os níveis em que se encontravam antes da pandemia, com destaque para os setores ligados a transportes e tecnologias da informação e comunicações. Porém, o ritmo em que esses setores se recuperam não vem sendo acompanhado por dois itens essenciais num mundo cada vez mais conectado: chips e contêineres.
No caso dos chips, o principal gargalo se dá na capacidade da indústria global de semicondutores de acompanhar um mundo cada vez mais apoiado em bens e serviços intensivos em tecnologias. Do smartphone em que você lê este artigo até o ônibus que utilizamos em nossos deslocamentos do dia a dia, são inúmeros os componentes à base de semicondutores que permitem que nos desloquemos, comuniquemos e produzamos. E essa dependência de semicondutores tende a se acentuar, na medida em que as tecnologias existentes sofrem aprimoramentos e outras tecnologias surgem para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico a nível global.
Atualmente, grande parte da demanda por semicondutores é suprida por empresas sediadas nos Estados Unidos, Europa, Japão, China e Tigres Asiáticos. Com essa concentração de mercado em poucos países e o descasamento crescente entre oferta e demanda de semicondutores, alguns setores já experimentam paralisações de atividades, caso da indústria automobilística. Em segmentos como o de smartphones, notebooks e consoles, algumas das principais empresas estão reduzindo o ritmo de produção para os próximos meses, enquanto buscam soluções para mitigar a médio e longo prazos os riscos de intercorrências em suas cadeias de valor por falta de chips.
Não obstante a escassez de um componente tão importante para um mundo 4.0, o comércio internacional também se depara com a falta de contêineres, itens essenciais ao transporte de mercadorias por diversas partes do mundo com maior agilidade, flexibilidade e segurança.
Com o advento da pandemia de Covid-19, a produção de contêineres sofreu uma queda, dadas as incertezas sobre a duração e a gravidade dessa crise sanitária na economia global. Porém, a vacinação nas principais economias nacionais está bem avançada, o que aumenta a confiança de pessoas, empresas e investidores no mundo pós-pandemia. E confiança crescente gera demanda por bens e serviços, que demanda mais produção e circulação de materiais, que demandam mais serviços logísticos, que demandam mais contêineres. E o descasamento crescente entre demanda e oferta de contêineres combinado com a alta demanda nos principais portos dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia vêm encarecendo os preços desse equipamento logístico.
Devido à menor relevância econômica da economia brasileira e à distância geográfica do país em relação aos principais terminais logísticos mundiais, a escassez global de contêineres vem gerando gargalos e elevando os custos com frete nos principais setores exportadores do país. Ademais, o encarecimento do preço desse equipamento se reflete no encarecimento nos custos de importação de bens e serviços, que impacta na inflação de custos das principais cadeias de valor que atendem a população brasileira. E mais inflação significa menos poder aquisitivo e bem-estar das famílias e maiores concentração de renda e pobreza geral.
Diante do exposto, fica o alerta para que os principais setores econômicos do país se mobilizem para desenvolver soluções que mitiguem os efeitos da escassez de semicondutores e contêineres, como o investimento na produção nacional em paralelo ao estabelecimento de contratos de longo prazo com os fornecedores atuais desses itens. Por seu turno, o Poder Público deve estimular o desenvolvimento de arranjos produtivos locais que atendam as necessidades de nossos setores produtivos por chips e contêineres, seja pela desburocratização de atividades que apoiem esses arranjos, seja por meio de linhas de financiamento público e/ou incentivos fiscais.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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