Arranjos produtivos locais e sua contribuição à retomada econômica
- Pedro Papastawridis

- 3 de ago. de 2020
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Atualizado: 3 de ago. de 2020
Muito se tem falado sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na economia global. Do arrefecimento da atividade produtiva nos países, passando pela escalada do desemprego e desembocando no agravamento das disparidades sociais, países e organismos internacionais vêm discutindo formas de reverter os estragos que a Covid-19 causou no bem-estar das sociedades.
Para entender um pouco dos prejuízos desse vírus na economia mundial, o produto interno bruto (PIB) de países da União Europeia como Alemanha, Espanha e Portugal decresceu na casa dos dois dígitos no 2º trimestre deste ano, se comparados com o mesmo período de 2019. Nos Estados Unidos, o tombo foi ainda maior: 32,9%. Apesar de a pandemia do novo coronavírus ainda estar presente, esta já é uma das maiores crises econômicas mundiais, equiparando-se à Crise de 1929 em alcance global e superando em termos econômico-financeiros a Crise do Subprime, de 2007.
Quanto ao Brasil, os impactos dessa crise sanitária também respingam na economia e na qualidade de vida dos brasileiros. Num cenário econômico muito otimista, o PIB brasileiro deve recuar uns 5% neste ano, o que indica o tamanho do estrago da pandemia numa economia que ainda não se recuperou devidamente da crise que a corrupção sistêmica desencadeou no país a partir de 2014. De acordo com dados da consultoria LCA, já se espera uma queda de 11,3% da renda per capita do brasileiro desde 2013 por conta dessas sucessivas crises pelas quais o país vem passando.
E como superar este quadro tão difícil para o Brasil e para o mundo?
Pois bem. Sem desconsiderar a necessidade de uma estratégia efetiva de contenção de danos causados pela Covid-19 na saúde pública, é preciso pensar na reestruturação das cadeias de valor locais e buscar formas de inseri-las de maneira competitiva nas cadeias de valor globais. E uma forma de alcançar esses dois objetivos (o local e o global) é estimulando a formação de arranjos produtivos locais (APLs).
Em termos conceituais, um APL (ou cluster) é um aglomerado de empresas geograficamente concentradas, ancorado por redes e alianças estratégicas com fornecedores, setores correlatos, instituições de ensino e pesquisa, clientes, órgãos reguladores e entidades de classe, resultando em especialização produtiva. Um exemplo bem comum de APL é encontrado em regiões vinícolas da Europa, como a Toscana (Itália), Rioja (Espanha) e o Douro (Portugal). Nessas localidades, vinicultores costumam firmar parcerias com fornecedores de equipamentos, instituições de ensino e centros de pesquisa para desenvolverem uvas mais produtivas, resistentes e afinadas com o terroir dessas regiões. Além disso, como se verifica no Douro, a especialização da cadeia vinícola pode chegar ao nível de delimitar não só os requisitos mínimos de qualidade, mas também onde o vinho deverá ser produzido para obter a certificação DOC Douro.
No caso brasileiro, arranjos produtivos locais também existem e costumam ocorrer com maior preponderância no setor primário da economia, como na região cafeeira do Sul de Minas, no Vale dos Vinhedos da Serra Gaúcha e nos complexos minerários de Carajás (PA) e do Quadrilátero Ferrífero (MG). Porém, tais arranjos empresariais podem ocorrer em setores como o automobilístico, o de tecnologia da informação e, até mesmo, no turismo.
Uma forma de viabilizar a formação de clusters e o desenvolvimento dos já existentes no país passa pela simplificação administrativa e tributária de certas atividades econômicas com potencial de geração de emprego e renda de maneira sustentável. Além disso, a aplicação responsável do sandbox regulatório para flexibilizar requisitos regulatórios e permitir que empresas testem serviços e produtos em determinadas regiões e com determinados grupos de clientes também é uma boa saída para fomentar a formação de APLs. Por fim, não podemos esquecer da formação de capital humano local, o que demanda a aproximação entre o Poder Público, empreendedores e instituições de ensino e pesquisa, com vistas à oferta de cursos livres, técnicos e de nível superior nas localidades onde se pretende desenvolver um cluster.
Se organizar tudo isso direitinho, a união de esforços produzirá a força necessária para superar esta crise e gerar bem-estar econômico e social para esta e as futuras gerações. Só requer: vontade política; planejamento adequado de modelos de negócios condizentes com as potencialidades locais; e deixar o empreendedor empreender e o trabalhador trabalhar.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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