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Ajuste fiscal, teto de gastos, prudência e sofisticação com a família

  • Foto do escritor: Pedro Papastawridis
    Pedro Papastawridis
  • 17 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Suponhamos que você tenha um filho cuja mesada seja estabelecida tendo por base um percentual do seu salário. Também suponhamos que, ao definir o valor da mesada, você pactue uma série de compromissos com o seu filho, de maneira que ele continue recebendo um dinheirinho todos os meses: acordar cedo, tomar banho, escovar os dentes, respeitar os pais, os vizinhos e os professores, tirar boas notas, frequentar o curso de idiomas, praticar esportes, etc. Com isso, você espera que ele seja uma pessoa saudável, consciente e capaz de retribuir à família e à sociedade um pouco daquilo que recebeu dos outros.

O tempo passa, e você deixa de fiscalizar as ações de seu filho. Pior: você deixa de cobrar de seu filho os compromissos estabelecidos quando que você acertou o valor da mesadinha. Apesar disso, um percentual de seu salário continua indo para o garoto (ou a garota, caso seja do sexo feminino).


O filho, percebendo a falta de controle e autoridade dos pais, passa a se desleixar um pouco: começa a acordar tarde, deixa de escovar os dentes após algumas refeições, passa a ofender os pais e os vizinhos, perturba as aulas e começa a perder rendimento na escola e nos esportes.

Como decorrência disso, os gastos da família com o filho vão aumentando, ainda que de maneira bem sutil: os pais percebem que os dentes do garoto estão ficando com cáries e começam a pagar um tratamento dentário; com os constantes embates com os vizinhos, o filho começa a quebrar vidraças, danificar o jardim e pichar o muro e o carro dos outros, o que leva os pais a terem que se retratar com a vizinhança ou com o síndico e a reparar financeiramente os estragos causados; para completar, surgem gastos com explicadora ou professor particular, para tentar reverter a queda de rendimento do filho na escola.

Após essa sucessão de eventos, a família percebe que os gastos já não cabem mais no orçamento mensal. Como ela goza de um bom relacionamento com o banco, começa a contrair empréstimos para compensar desequilíbrios financeiros. Todavia, o tempo passa, os desequilíbrios nas finanças permanecem e o banco passa a cobrar juros mais altos para compensar o risco crescente de calote da família. Finalmente, o banco deixa de emprestar, pois a inadimplência da família está alta demais.

Diante disso, o que a família pode fazer? Inicialmente, ela precisa mapear os gastos que possui mensalmente, cortar o que é desnecessário e reequilibrar o orçamento. Com isso, ela passa a ter condições de quitar a dívida com o banco e, num futuro próximo, poder realizar benfeitorias na casa, trocar de carro, ou guardar um dinheirinho numa renda fixa, para fins de reserva de contingência. E uma grande parte dos gastos está relacionada com despesas médicas e odontológicas do filho, com o professor particular do filho e com a reparação de vidraças, muros e veículos dos vizinhos, devido à rebeldia do filho.

Apesar disso, os pais evitam bater de frente com o garoto, pois este prometeu ser um bom filho e vem comprando pizza para a família todos os dias, graças ao dinheiro da mesada. Entretanto, a pizza diária não cabe na mesada do filho. Portanto, é preciso parar com essa cortesia, pois ela é feita com o dinheiro que os pais dão para ele e a família está cada vez mais endividada, a ponto de precisar se desfazer do carro e se mudar para um lugar mais humilde para honrar compromissos. No entanto, o filho continua comprando pizza todos os dias. E, a cada dia, passa a chamar mais pessoas para a casa dos pais para comer pizza. Com isso, os gastos do filho só aumentam, enquanto a família vai perdendo qualidade de vida e afundando numa crise econômica e existencial.

Para quem tem responsabilidade financeira e sabe educar os próprios filhos, a história acima parece absurda. Mas é o que ocorre diariamente com as finanças públicas em nosso Brasil. À custa de um populismo eleitoreiro que não cabe no orçamento, políticos e seus aspones vão drenando recursos do povo em obras e serviços muitas vezes desnecessários e com sobrepreços em relação ao que é praticado no mercado.


Para tanto, esses clãs e grupos políticos recorrem a acordos feitos em gabinetes com outros clãs e grupos políticos, longe dos olhos e da realidade do povo. E o povo, seja por medo, desconhecimento, ou falta de transparência do Poder Público, não fiscaliza e não cobra maior responsabilidade fiscal dos agentes públicos.

Para piorar, uma parte da sociedade desconhece que o dinheiro público é originário dos impostos, taxas e contribuições que a população paga a todo momento. Essa parte do povo, que costuma ser a parte que menos tem acesso à informação sobre quais serviços públicos deveriam ser prestados, como e a que custo, também teme quando políticos ameaçam cortar programas assistencialistas e acabam escolhendo e mantendo no poder quem “paga mais”. Tudo isso à custa de gastos públicos crescentes, que já não cabem mais no orçamento, tampouco no teto de gastos que foi instituído no Brasil justamente para frear a farra fiscal de governantes irresponsáveis.

Assim, o país vai se endividando e aumentando impostos, ainda que de maneira bem sutil, tal é o caso da CPMF de Bolsonaro e Guedes que está por vir (todavia, Guedes, Bolsonaro e Ricardo Barros juram não se tratar de CPMF).

Com o aumento do endividamento do Brasil, muitos investidores, países e organismos internacionais começam a aumentar os juros sobre o dinheiro que emprestam ao nosso país, para compensar o risco de calote da nação. E mais juros geram mais gastos públicos, pois é preciso amortizar o principal e pagar os juros crescentes com os credores. E isso vem do orçamento público, que passa a exigir mais sacrifícios financeiros do povo sob a forma de tributos. Até chegar um momento em que as famílias precisarão vender a casa e o carro para bancarem as irresponsabilidades do filho “Estado brasileiro”, que continua ofendendo a família e os vizinhos e causando prejuízos a todos, mas insiste em comprar pizza para todos com um dinheiro que faz falta às famílias. Pense nisso!

Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

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