A sociedade em que o poste mija no cachorro

Para quem tem mais de 30 anos (como este que lhes escreve), era muito comum ouvirmos de nossos pais e avós ensinamentos de cunho ético-moral como “não pode pegar o que é dos outros”, “respeite os mais velhos” e “educação e bons modos não fazem mal a ninguém”. Nos dias atuais, nunca fez tanta falta à nossa sociedade observarmos coisas assim.

Pensemos no primeiro ensinamento (“não pode pegar o que é dos outros”). Graças à não observância dele, bilhões de reais foram desviados dos cofres públicos da União, estados, Distrito Federal e municípios nos últimos anos. E isso vem se refletindo na catástrofe socioeconômica pela qual o Brasil passa, com a ausência de políticas públicas efetivas de combate à Covid-19, escolas públicas sucateadas, espaços públicos abandonados, milhares de pessoas vivendo nas calçadas de grandes centros urbanos e milhões de brasileiros sem emprego e passando fome todos os dias.

Quanto ao segundo, uma breve olhada nos números da Covid-19 no Brasil ajudará a perceber como a inobservância desse ensinamento vem sendo fatal ao país. Neste momento, quase 335.000 famílias já choraram a perda de entes queridos para a referida doença. E muitas dessas mortes eram evitáveis, em parte se o Poder Público tivesse feito a parte que lhe cabia, em parte se as pessoas tivessem feito coisas simples e ensinadas no seio familiar e nas escolas, como lavar sempre as mãos com água e sabão, evitar sair à noite e trocar a "festinha" por um bom livro. Agora, só resta rezar pelos que foram e pedir a Deus que proteja e ilumine a consciência dos que não foram.

Por fim, falemos um pouco da educação e dos bons modos. Não estamos falando de portar um pedaço de papel embaixo do braço e ostentar para os amigos e os colegas de LinkedIn. Trata-se de conhecer o mundo ao nosso redor, saber respeitá-lo e como lidar com ele e possuir uma atitude proativa e positiva em relação a si próprio e ao meio social. Muitas das mazelas pelas quais o país vem passando têm na falta de educação e bons modos causas comuns. Basta olharmos para a corrupção que tomou de assalto o poder e os cofres públicos ao longo de anos no Estado do Rio de Janeiro. Devido ao desconhecimento e à ausência do emprego de habilidades e atitudes pela sociedade para combater esse estado de coisas tempestivamente, a segunda maior economia do país agora atravessa um cenário de terra arrasada, caracterizado pela escassez de serviços públicos adequados, saneamento básico similar ao de países pobres e a formação de feudos dominados por narcomilícias.

Diante do exposto, fica nítido que o Brasil caminha a passos largos para se tornar uma sociedade em que o poste é quem mija no cachorro, na medida em que as ações e pensamentos errados de alguns estão subvertendo princípios e valores considerados certos em qualquer país que se enxerga como tal. Condutas vistas em diversos agentes políticos e formadores de opinião como sabotagem ao enfrentamento da corrupção, da pandemia de Covid-19 e do Estado Democrático de Direito vêm custando vidas e custando caro à economia do Brasil, pois afastam negócios e investimentos estrangeiros e comprometem a imagem do país perante seus pares. Se esse é o caminho que o Brasil pretende trilhar, então é melhor já ir se acostumando com o caos socioeconômico iminente, pois é o que essa jornada tende a oferecer.

Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!