A nova Guerra Fria e como o ambiente de negócios terá que se adaptar a isso
- Pedro Papastawridis

- 10 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo passou por anos difíceis de reconstrução econômica, política e social. Na Europa, grande parte do território passou por ajustes em suas economias. Na África e em algumas regiões da Ásia, territórios sob controle de países europeus passaram por rupturas políticas internas, o que resultou no processo de independência de diversas nações, como Índia, Paquistão, Angola e Líbia. Quanto aos países que saíram derrotados da guerra, restou a divisão política e social em alguns deles, como se viu na Alemanha.
Apesar dos cacos da guerra terem permanecido presentes durante muito tempo, o pós-Segunda Guerra também deu início a um período de crescimento econômico nunca visto até então, fruto dos avanços tecnológicos advindos de cadeias de valor que apoiaram as atividades bélicas e da disseminação por organizações de todo o mundo de dois modelos de gestão: o da escola clássica, mais focado na eficiência e massificação da produção; e o modelo japonês de administração, focado na qualidade e baseado nos princípios do Toyotismo.
Paralelamente a isso, ocorria o tensionamento geopolítico entre Estados Unido e URSS, que veio a ser extinta em 1991. Com essa extinção, a URSS fragmentou-se em 15 países distintos, tendo a Rússia permanecido com a maior área territorial e a maior parcela da população que compunha a URSS. Entretanto, a herança armamentista permaneceu para russos e americanos, que ainda rivalizam em diversas questões geopolíticas pelo mundo. Só que, agora, eles contam com mais um adversário no tabuleiro de xadrez global: a China.
De país agrícola no pós-Segunda Guerra, a China passou por mudanças políticas e econômicas que a levaram a ser a segunda economia mundial na atualidade. Com um vasto parque industrial, que produz de tudo um pouco para todos, a China vem crescendo há décadas num ritmo próximo a dois dígitos por ano. E esse crescimento proporcionou ao dragão chinês tanto a formação de um país com renda média, quanto uma evolução nos campos militar, espacial e biotecnológico. Hoje, a China já compete em condições de igualdade com países tecnologicamente avançados, como EUA, Japão e Alemanha, e vem travando uma batalha com os ianques em atividades como telefonia, computação e viagens aeroespaciais.
Para conhecer um pouco mais sobre a estratégia que a China implementou nos anos 1970 e que resultou no que ela é hoje, deixo o link para um trabalho acadêmico que desenvolvi ao longo de 2013: <https://www.academia.edu/6470368/ZONAS_ECON%C3%94MICAS_ESPECIAIS_E_SUA_CONTRIBUI%C3%87%C3%83O_%C3%80_COMPETITIVIDADE_NACIONAL>.
Embora o mundo esteja passando por uma pandemia de Covid-19, o que temos visto é um tensionamento geopolítico cada vez mais crescente entre EUA e China, reflexo da rivalidade econômica entre os dois países e dos conflitos político-ideológicos entre o atual presidente americano, Donald Trump, e a cúpula política chinesa. Temas como Taiwan, Huawei, Hong Kong e tecnologia da informação são exemplos de conflitos que costumam ocorrer entre Washington e Pequim. E a aproximação chinesa do 1º lugar em PIB mundial também mexe com os brios americanos, o que ajuda a entender um pouco da Guerra Fria do século XXI. A Tabela 1 mostra como a China está em vias de alcançar a liderança da economia mundial, podendo fazê-lo antes mesmo de 2030.

Tabela 1 – Trajetória de crescimento de China e Estados Unidos entre 2019 e 2030 (fonte: dados coletados e tratados pelo autor a partir do site do Banco Mundial)
Em vista disso, e para o bem dos negócios, é importante que pessoas, organizações e governos deixem o viés ideológico de lado e ajustem suas estratégias para esta nova era da globalização, em que Estados Unidos deixam de ser a única “superpotência” existente. Identificar, entender e antever comportamentos da economia chinesa também é fundamental para quem pretende diversificar operações e firmar parcerias econômicas no Brasil e no mundo. Afinal de contas, quem quer fazer um bom negócio não pode esquecer que quase um quinto da população mundial vive na China e que a renda média dessa população ainda está muito aquém da renda média dos ianques, o que sinaliza um potencial enorme para a oferta de bens e serviços com os mais variados níveis de valor agregado para os chineses.
Em suma, ou você passa a também considerar a China em seus negócios, ou correrá o risco de perder um negócio da China. Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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