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A normalização do ridículo e a ridicularização do normal

  • Foto do escritor: Pedro Papastawridis
    Pedro Papastawridis
  • 12 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Uma desculpa que gestor público incompetente sempre dá quando não consegue resolver os problemas deixados por seus antecessores é a de que “já estava assim quando cheguei”. Recentemente, alguns gestores passaram a incrementar essa desculpa e incluir o “se não gostar do que eu faço, os antecessores voltam”. Seria cômico, se não fosse trágico para a Administração Pública e o Brasil!

Dando uma passada pelas ruas do Rio de Janeiro, sobretudo em regiões como Centro, Glória, Madureira, Maracanã e Andaraí, tem sido frequente se deparar com aglomerações de moradores de rua. Alguns já até armam barracas nas praças e calçadas, permanecem em posição de “flor de lótus” e fumam um crack, enquanto o rastro de abandono de pessoas e ruas vai aumentando pela cidade que recentemente sediou uma final de Copa do Mundo e as Olimpíadas. Quanto ao Prefeito, principal responsável pela zeladoria do município, prefere ignorar os fatos e aparecer para as câmeras, preocupado tão somente com sua campanha para reeleição. E pensar que um de seus slogans de campanha em 2016 era “cuidar das pessoas”...

Quanto ao Governador fluminense, cujo principal discurso eleitoral em 2018 foi o de combater a bandidagem, parece que se esqueceu de olhar para o próprio quintal de casa. Se tivesse olhado, teria visto alguns de seus auxiliares enchendo malas de dinheiro, enquanto a saúde precarizava e milhares de pessoas morriam de Covid-19, devido à ausência de atendimento adequado nos hospitais estaduais. Ressalte-se que não faltaram boa vontade e sacrifício dos profissionais da linha de frente (médicos, enfermeiros, etc.) na luta contra o coronavírus. O que faltou foi escrúpulo e sobrou desumanidade de alguns gestores públicos, que agiram de “malandros” e continuaram com a sangria dos cofres públicos que vem ocorrendo há anos na esfera estadual.

E a nível federal? O da “nova política” prefere o conchavo com os da “velha política”. Até Ministério da Segurança Pública para agradar aliados do Centrão está em vias de ser recriado. Para tanto, especula-se utilizar recursos provenientes da legalização de cassinos e jogos de azar para financiar esse novo velho ministério. Isso até lembra a história do jogo do bicho no Rio de Janeiro e do quanto bicheiros sempre gostaram de se associar a agentes de segurança pública.

Se quisermos ir além, há um sem-número de situações na política e nos políticos brasileiros que vem reforçando a tese de que a normalização do ridículo e a ridicularização do normal está se enraizando na sociedade brasileira: recriação de CPMF para bancar programas eleitoreiros e assistencialistas; acordos de bastidores para neutralizar ações e instituições que combatem a corrupção; ações de inteligência que operam à margem do que é lícito e moral, com inúmeros casos de dossiês que vêm sendo confeccionados contra opositores; e os crescentes gastos públicos para manter um modelo de gestão patrimonialista, gerando endividamento crescente do país, pressão sobre a renda disponível da população e sobre a capacidade do país de atrair investimentos e gerar empregos.

Se para alguns isso é normal, para muitos soa ridículo! E ninguém ficará livre de pagar a conta da normalização do ridículo no Brasil. Ou a população para de dar passeio no shopping e na praia enquanto ignora o agravamento de uma crise econômica e social que persiste desde 2014, ou muitos terão que arrumar espaço nas praças e nas calçadas para armar barracas, pois as forças políticas reinantes deste país só estão preocupadas com as próximas eleições, os acórdãos e os acordões.

Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

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©2020 por Pedro Papastawridis em: Blog do Papa (blogdopapa.com).

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