A mobilidade urbana e seus impactos no desenvolvimento das cidades
- Pedro Papastawridis

- 4 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Com as medidas de isolamento e distanciamento social que pessoas, empresas e governos adotaram nos últimos meses, reflexo da pandemia de Covid-19, observou-se uma queda na demanda por transporte público nas cidades. Com isso, não só a circulação de pessoas diminuiu, mas também a receita das empresas que prestam esse serviço caiu vertiginosamente.
No caso do estado do Rio de Janeiro, concessionárias de transportes como o Metrô e a Supervia já enfrentam dificuldades de caixa para manterem suas operações, o que vem gerando dúvidas sobre a continuidade dos serviços prestados por essas empresas tanto no governo local, quanto na própria população que depende desses serviços. No caso dos ônibus, a situação é ainda mais difícil, com empresas tirando veículos de circulação, demitindo funcionários e fechando as portas. E quem paga a conta dessa crise generalizada é a própria sociedade, sobretudo as classes D e E, que mais dependem do transporte público para se deslocar, estudar e trabalhar.
Se refletirmos sobre como as cidades devem ser, a melhor analogia é com o corpo humano. Nessa analogia, a mobilidade urbana se assemelha ao nosso sistema circulatório. E sistema circulatório bom é sistema livre de obstruções, capaz de transportar a contento os nutrientes de que o corpo precisa para se desenvolver. Nesse caso, parte desses nutrientes são as próprias pessoas que circulam pelas cidades, levando consigo recursos materiais e financeiros, conhecimento e o trabalho a ser desempenhado nos pontos de interesse do organismo urbano. Portanto, o sistema circulatório não pode falhar. Caso falhe, o corpo adoece e passa a produzir mais esforço para obter cada vez menos resultados.
Para garantir que a mobilidade urbana atenda aos objetivos que as cidades buscam, é preciso pensar em três estratégias complementares entre si: a descentralização de atividades, o emprego preponderante de transporte de massa e a diversificação de meios de deslocamento.
No que tange à descentralização de atividades, é preciso pensar em cada bairro ou distrito como um polo econômico capaz de entregar os produtos e serviços dos quais cada parte do município necessita. Isso ajuda a reduzir a necessidade de grandes deslocamentos pelas cidades e gera emprego e renda para a população a poucos quilômetros de onde ela está situada. Atividades como o comércio, hortas e pomares urbanos e cooperativas de reciclagem e artesanato são grandes aliadas nessa descentralização.
Quanto ao emprego preponderante de transporte de massa, trata-se de uma estratégia para reduzir a quantidade de veículos em circulação nos centros urbanos, reduzindo emissões de poluentes e liberando o tráfego entre as regiões da cidade para serviços essenciais e de logística. Para tanto, o Poder Público precisa estabelecer diretrizes para investimento no transporte mais adequado para cada região do perímetro urbano, considerando fatores como a população total de cada cidade, tamanho da área urbana e dispersão da população e das atividades econômicas dentro do perímetro. Em cidades com mais de 500.000 habitantes, por exemplo, o investimento em metrô, trem ou veículo leve sobre trilhos (VLT) deve ser considerado para os principais fluxos de circulação de pessoas.
Por fim, quando pensamos em mobilidade, não podemos ignorar a importância da diversificação. Nesse caso, é importante para a adequada fluidez da dinâmica econômica e social das cidades investir em múltiplos meios de transporte, conforme o tamanho da região, do deslocamento e da população a ser atendida e adotar a tarifa única para fomentar a integração entre os modais durante um determinado tempo de deslocamento. Ademais, é preciso estimular a saúde e o bem-estar na mobilidade por meio de ciclovias e da integração entre estas e os modais de transportes existentes. A saúde pessoal e o bem-estar local tendem a ganhar com isso.
Diante do exposto, a mobilidade urbana e os meios que a viabilizam são muito importantes para o desenvolvimento de cidades e regiões em bases sustentáveis. Afinal de contas, a chave para um corpo sadio está no funcionamento adequado dos seus sistemas. E a adequada circulação humana é fundamental para o bom funcionamento do corpo urbano.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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