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A corrupção no Líbano e o que ela tem a dizer sobre as Beirutes que explodem a cada dia no Brasil

  • Foto do escritor: Pedro Papastawridis
    Pedro Papastawridis
  • 11 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Nos últimos dias, o mundo voltou os seus olhares para a explosão que atingiu o Porto de Beirute e devastou a já prejudicada economia libanesa. Com isso, a população local resolveu sair às ruas para ajudar nos trabalhos de limpeza dos escombros e de amparo aos mais necessitados, o que acabou evoluindo para uma onda de protestos contra as forças políticas que nada fizeram para evitar a explosão de uma carga que estava armazenada no porto há mais de 6 anos.

Quem estudou história das civilizações no ensino fundamental, já deve ter ouvido falar na civilização fenícia. Trata-se de uma civilização que se estabeleceu por quase 1.200 anos antes de Cristo num território que compreende atualmente os Estados do Líbano, Israel e Síria. Considerada uma potência marítima na sua época, a Fenícia possuía uma economia muito apoiada no comércio com outros povos do Mar Mediterrâneo, consequência direta da vocação marítima e da habilidade que os fenícios tinham para a negociação. E isso ainda se vê na simpatia e no traquejo com o qual sírios, libaneses e israelenses lidam com negociações comerciais nos dias de hoje.

Todavia, o tempo dos fenícios passou e diversos acontecimentos políticos, econômicos e sociais ocorreram ao longo dos quase 2.500 anos que se sucederam ao fim da civilização fenícia, desembocando na independência do Líbano e da Síria durante a Segunda Guerra Mundial e na formação do Estado de Israel, em 1948.

Hoje, o território do Estado libanês é uma mistura de riquezas históricas e culturais, ocupando uma área territorial que equivale a dois Distritos Federais e com uma população equivalente à do município do Rio de Janeiro.

Considerada há cerca de 20 anos um país próspero e com grande apelo turístico, o Líbano foi enfrentando gradualmente a escalada da corrupção sobre as instituições locais e de grupos terroristas em seu território. Um deles, o Hezbollah, não só é influente na vida política libanesa, mas também controla áreas do país ao sul e à nordeste. Em vista disso, o Líbano foi vendo sua riqueza histórico-cultural sendo ofuscada pelas divisões políticas e sociais que a corrupção e o terrorismo ocasionaram.

Atualmente, os libaneses atravessam uma crise econômica. Com a desvalorização da moeda local e o crescente fluxo de refugiados vindos de outros países do Oriente Médio, sobretudo a Síria, o Líbano vê a sua classe média perder poder aquisitivo e a pobreza atingir parcelas cada vez maiores da população. Ademais, a corrupção de grupos políticos e instituições locais também contribui para a degradação econômica, drenando recursos do povo em benefício de políticos e de projetos de poder.

Se a história recente do Líbano fez o leitor lembrar um pouco do que vimos no Brasil após o Petrolão, acertou! O Brasil só não explodiu por completo, pois ainda não surgiu um grupo político que tenha conseguido: cooptar as principais instituições políticas do país; comprar magistrados e oficiais militares; formar milícias bem treinadas; e reprimir com dossiês e o uso da força grupos opositores. Se isso já tivesse acontecido por aqui, não demoraria muito para vivermos o que países como Líbano ou Venezuela vivem atualmente.

Contudo, parece que o jogo anda virando para os lados do Mar Mediterrâneo. Após a explosão que devastou o Porto de Beirute no último dia 4 de agosto, a população resolveu se valer da máxima de que “todo o poder emana do povo” e invadiu repartições públicas e o Parlamento local. Após sucessivos protestos, o povo conseguiu destituir o atual governo, abrindo espaço para futuras reformas no sistema político local. Agora, cabe à população libanesa vigiar e cobrar do governo de transição uma mudança que estanque a sangria da corrupção e modernize as instituições locais, de maneira que essa pérola do Mediterrâneo volte a ser considerada a “Paris do Oriente Médio”.

E quanto ao Brasil? Diante dos fatos trazidos acima, também cabe à população brasileira fazer a sua parte, pois nem só de 600 reais vive o homem! Permitir que forças políticas se estabeleçam e permaneçam no poder à custa de conchavos, pão e circo é um preço muito alto para uma democracia como a nossa. Afinal de contas, não existe almoço grátis no jogo político. E a ausência de manifestações populares como as de 2013 vem fazendo com que o câncer da corrupção volte a avançar sobre a República Federativa do Brasil.

Já não se trata somente de 20 centavos a mais na tarifa dos ônibus. A corrupção suga bilhões dos cofres públicos todos os anos, já provocou trilhões em dívida pública e vem contribuindo para que a população pague cada vez mais impostos e usufrua de cada vez menos serviços públicos de qualidade, enquanto clãs e grupos políticos induzem a base da pirâmide a viver na base da informalidade, da precarização da qualidade de vida e de 600 reais mensais.

Pensem nisso e não deixem que a corrupção encontre porto seguro por aqui e exploda o Brasil da mesma forma que fez com Beirute! Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

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©2020 por Pedro Papastawridis em: Blog do Papa (blogdopapa.com).

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