Um conto kafkiano em solo tupiniquim
- Pedro Papastawridis

- 13 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Se alguém acompanhou as eleições de 2018 aqui no Brasil e, logo após, entrou em sono profundo até recentemente, é bem provável que esteja sofrendo de algum estranhamento em relação ao estado em que o país se encontra. Da pandemia de Covid-19 às forças políticas que assumiram o Brasil, o recém-acordado talvez acredite que foi projetado no espaço-tempo.
Num primeiro momento, o dorminhoco talvez pense que acordou em meio ao Carnaval carioca, ao se deparar com um clima quente, praias cheias e diversas pessoas circulando com máscaras pelas ruas. Depois, pensará se tratar de alguma catástrofe natural ou nuclear, ao perceber que muitas pessoas estão confinadas em casa há meses e que muitas outras sequer têm onde morar, armando barracas nas ruas e nas praças. Por fim, ao ver que os políticos eleitos em 2018 estão se comportando de maneira bem distinta do que prometeram fazer nas últimas eleições, esse caixeiro viajante do sono profundo dirá que os políticos foram abduzidos e submetidos a algum tratamento à base de ozônio por forças alienígenas.
Depois que tomar um banho, beber um bom café e ligar a televisão, é bem provável que o nosso “Soneca da Branca de Neve” recobre a lucidez plena. A partir daí, perceberá que muito do que ocorreu com o nosso Brasil não é culpa de algum tipo de abdução extraterrestre, e sim do estelionato eleitoral combinado com o acordão entre forças políticas que se mantêm no poder há décadas, somente mudando o grupo político ou o clã que coordena esses acordos. Saem os Sarneys, entram os “coxinhas”. Após os coxinhas, assumem o poder Lula e seus Companheiros. Na sequência, o Centrão assume a Chefia do Poder Executivo e mantém Michel Temer no Palácio do Planalto, enquanto “estanca a sangria” da Lava Jato. Por derradeiro, todos esses nomes e sobrenomes resolvem colocar outro clã representativo de seus interesses na Presidência da República: os Bolsonaros.
Grande parte do eleitorado que votou em Jair Bolsonaro em 2018 não votou porque curte uma rachadinha, uma retórica de circo de um Ministro da Economia ou um esvaziamento do combate à corrupção. Tampouco essa parcela do eleitorado de Bolsonaro despreza milhares de vidas que se foram pela Covid-19. Esses eleitores, que acreditam nos valores do trabalho, na dignidade da ética e do decoro e no desenvolvimento da nação em bases sustentáveis, parecem estar num conto de Franz Kafka, ao se deparar com PT, Centrão, Bolsonaro, Ministros de Tribunais Superiores e advogados inimigos da Lava Jato unidos contra quem ajudou a moralizar o país a partir de 2014. Isso sem falar na farra fiscal, nas perseguições políticas e nos “puxadinhos estruturais” que pesam no bolso do brasileiro, aumentam o desemprego e afastam investidores do país.
Enquanto uma parte da população está confinada em casa, outra está na praia ou no bar e a maior parte sobrevivendo, agentes políticos que só pensam em dinheirinho vão costurando novas formas de aumentar tributação na base da pirâmide social, desonerar os “amigos da Corte” e criar mecanismos que facilitem a vida de quem gosta de levar uma vida fácil. Medidas como a redução de tributos para bancos, a recriação da CPMF (que o Guedes jura não se tratar de CPMF) e a legalização de cassinos e jogos de azar são exemplos de que o Brasil está se tornando um péssimo exemplo para quem busca investir em países comprometidos a longo prazo com a responsabilidade fiscal, o combate à corrupção e ao crime organizado e a sustentabilidade nos negócios.
Não seja gado ou inseto! Seu voto, seu bolso e seu país são muito mais importantes do que projetos de poder de castas políticas. Ou a população leva adiante a máxima de que “todo o poder emana do povo”, ou permanecerá presa num eterno conto kafkiano.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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