Telegram: por que, para alguns, isso é mais importante que comida no prato do brasileiro?
- Pedro Papastawridis

- 21 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Desenvolvido pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov em 2013, o Telegram é um aplicativo de troca de mensagens que funciona em moldes parecidos com os do WhatsApp, fundado por Brian Acton e Jan Koum em 2009 e atualmente administrado pela holding do Facebook (a Meta).
Da mesma forma que o WhatsApp, o Telegram pode ser acessado de smartphones, tablets e PCs, possuindo criptografia ponta a ponta no programa. Além disso, a empresa dos irmãos russos adota como recurso de privacidade a possibilidade de iniciar conversas secretas, que são deletadas automaticamente depois de um tempo determinado pelo próprio usuário.
Em vista da privacidade oferecida e de se tratar de uma empresa localizada num paraíso fiscal que pouco coopera com investigações internacionais (Dubai, nos Emirados Árabes Unidos), o Telegram se tornou uma alternativa a milhões de usuários de todo o mundo que buscam fugir dos crescentes controles e medidas de cooperação que o WhatsApp vêm implementando, para auxiliar autoridades policiais e judiciárias que atuam no combate a pessoas e organizações que se articulam por redes sociais para promoverem desinformação e praticarem atos criminosos.
No caso concreto do Brasil, o Telegram começou a ganhar força a partir de 2015, após algumas ações judiciais que determinaram o bloqueio do WhatsApp. Entretanto, as recentes iniciativas de combate às fake news que as redes sociais do “Metaverso” (Facebook, WhatsApp e Instagram) vêm adotando, como reduzir o alcance de mensagens enviadas e desmonetizar pessoas e canais que propagam desinformação, discurso de ódio e/ou atividades de natureza antidemocrática, tornaram o Telegram uma espécie de “porto seguro” para quem quer fugir do alcance da Justiça. E isso levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) a entrarem no circuito e adotarem medidas para mitigar os riscos contra a lisura do processo eleitoral brasileiro deste ano.
Uma das iniciativas adotadas, por exemplo, pelo TSE foi a assinatura de memorandos de entendimento entre o tribunal e as principais redes sociais e plataformas digitais de compartilhamento de mensagens e vídeos, para uma ação coordenada de combate à propagação de desinformação durante as Eleições 2022. Como já exposto acima, as empresas do Metaverso se dispuseram a colaborar, enquanto o Telegram sequer respondia às comunicações da Corte Eleitoral brasileira e agia de maneira omissa em relação à propagação de fake news eleitorais sobre o Brasil por meio de seu aplicativo de mensagens. Em vista disso, o STF determinou no último dia 17/03 a suspensão das atividades do Telegram no país.
Na ocasião, o Ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a suspensão do Telegram em todo o Brasil “até o efetivo cumprimento das decisões judiciais anteriormente emanadas”. Em caso de descumprimento da decisão, o ministro estipulou uma multa diária de R$ 100 mil.
Após o risco iminente de perder acesso a um dos mercados consumidores de redes sociais mais atraentes do mundo, Pavel Durov buscou se retratar em relação ao menoscabo com que tratou as autoridades judiciárias brasileiras (talvez seja assim que funciona em Moscou ou Dubai) e acatou as determinações estabelecidas pelo STF, além de se comprometer com as seguintes iniciativas, segundo o portal de notícias CNN Brasil:
Monitoramento diário dos 100 canais mais populares do Brasil;
Acompanhamento diário de todas as principais mídias brasileiras;
Conteúdo considerado impreciso conterá marcação dizendo que não foi checado;
Restrição de postagens públicas de usuários banidos por espalharem desinformação;
Atualização dos termos de serviço do aplicativo;
Refino das estratégias de moderação de conteúdo, a fim de se adequar à legislação brasileira; e
Promover informações verificadas.
À luz do exposto até aqui, entende-se por que a suspensão do Telegram representa para alguns muito mais que um aplicativo a menos no Brasil, pois tal suspensão provocaria a perda de presença digital de muitas pessoas e organizações formadoras de opinião, ativo cada vez mais valioso num mundo que se conecta e se comunica num piscar de olhos.
Para grupos políticos que se apoiam na construção de narrativas para ocuparem e manterem espaços de poder na sociedade brasileira, caso da extrema-esquerda lulopetista e da extrema-direita bolsonarista, não poder disseminar planos, ações e informações pela plataforma dos irmãos Durov (ou seriam Putin?) representa o risco de perder uma eleição presidencial que se aproxima, o que tornou o Telegram um dos assuntos mais comentados do Brasil no último fim de semana, equiparando-se à guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia e superando o noticiário sobre a inflação da água, da energia elétrica, dos combustíveis e dos alimentos.
Em suma, enquanto as bolhas ideológicas de nosso país se preocupam com o Telegram e os mais de R$ 4 trilhões em orçamento público que a União administra anualmente, os demais 210.000.000 de brasileiros têm que se virar para cair comida no prato e caberem a água, a luz e o gás no orçamento familiar. Pensem nisso e se lembrem disso em outubro, enquanto estiverem votando!
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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