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Quando o novo não passa de uma coxinha velha

  • Foto do escritor: Pedro Papastawridis
    Pedro Papastawridis
  • 4 de jan. de 2021
  • 4 min de leitura

Depois de um 2020 conturbado pela Covid-19 e seus aliados em postos-chave de Brasília, 2021 começa com a esperança de dias melhores. Afinal de contas, dezenas de países já iniciaram campanhas de imunização de seus cidadãos. E o que é melhor: de maneira gratuita na quase integralidade dos casos.


Mas e o Brasil? Quando a vacinação contra a Covid-19 começará para valer, abrangendo toda a população e de maneira gratuita?


Pois bem... Na nossa Constituição Federal de 1988, está escrito em seu art. 196 que “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. No papel, ficou bonito. Porém, a teoria é outra na prática, sobretudo quando temos um Chefe de Estado que testa, provoca e desconstrói gradualmente as instituições que compõem o Estado Democrático de Direito brasileiro.


Enquanto Jair Bolsonaro joga futebol no litoral paulista, tira foto com suspeito de lavagem de dinheiro para o PCC, banca uma de Mussolini e nada em meio à militância e manda recados para membros do MPRJ durante uma live no fim de 2020, milhares de pessoas se contaminam e morrem de Covid-19, milhões estão sem emprego e outros milhões passam fome. E não adianta o Clã Bolsonaro florear a realidade por meio de sua militância digital, da Secom, ou do Ministro da Propaganda. O Brasil só sairá dessa lama em que entrou com a Covid-19 após a vacinação em massa e 100% gratuita!


Que Bolsonaro é negacionista, obscurantista, oportunista, incompetente e parasita, isso o Brasil já sabe e a pandemia serviu para jogar luz sobre esse câncer que se ocultava à custa de um aparato composto por integrantes das Forças Armadas e das forças de segurança pública com conexões com o crime organizado. Nesse contexto, o próprio caso de Fabrício Queiroz é bem emblemático, na medida em que ele servia o clã e operava abaixo do radar de órgãos de investigação até pouco tempo atrás, quando se descobriu o milionário esquema de rachadinhas da ALERJ que ajuda a explicar como campanhas políticas são financiadas, militâncias são mobilizadas e redes de inteligência, contrainteligência e estratégia são construídas. E tudo isso à custa de recursos públicos que deveriam financiar uma educação pública no patamar de uma Finlândia e um SUS nos moldes do NHS inglês, mas que ainda operam em níveis similares aos de países subdesenvolvidos.


Enquanto Bolsonaro e sua claque sabotam a saúde coletiva, incitando aglomerações e inibindo a vacinação de todos os brasileiros, setores das elites financeira e política do país já buscam formas de “furar a fila” da vacina contra a Covid-19. Logo esses que ajudaram a trazer o vírus para o país em 2020 e que, agora, querem se livrar dele e deixar no colo do povo: membros do Partido Novo no Congresso Nacional, por exemplo, defendem a vacinação privada. Só que vacinação privada é vacinação paga. E bem paga! E pensar que, até pouco tempo atrás, o PSDB era rotulado de “partidos dos ricos para os ricos”. Pelo visto, esse “novo” não passa de mais uma coxinha velha.


Ao se colocarem acima da Lei e da ordem, figuras como Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Gilmar Mendes negam o Estado Democrático de Direito e passam uma mensagem para a sociedade de que uns podem mais que muitos. E o próprio acordão costurado entre 2019 e 2020 pelas forças políticas de Brasília para neutralizar o combate à corrupção promovido pelo “lavajatismo” ilustra bem isso.


Para tanto, e se baseando no modus operandi dessas figuras, bastaria o indivíduo deter poder político e ter controle sobre os meios de formação da consciência coletiva, tal é o caso dos meios de comunicação, da educação e da cultura. Isso explica, por exemplo, o fascínio que Bolsonaro tem na dominação desses espaços de formação de opinião e consciência e as recorrentes aparições dos outros três, direta ou indiretamente (pelo uso de "mensageiros"), na imprensa. Uma vez obtido o poder e o controle sobre as mentes e os corações da população, esses indivíduos passam a se considerar no direito autoproclamado de impor a narrativa que melhor lhes convenha, não importando se essa narrativa possui conexão com a verdade material dos fatos sociais.


Em suma, Bolsonaro, Maia, Alcolumbre, Gilmar Mendes e os que são representados pelos quatro (incluindo os almofadinhas do “Novo”) levam adiante, ainda que movidos pelo instinto político, a afirmação de Karl Marx de que "a história da humanidade é a história das classes dominantes", sendo essas classes, no caso concreto aqui descrito, os grupos que orbitam em torno das quatro figuras atualmente.


Ao tentarem reescrever a história e a sociedade segundo suas vontades pessoais, os "quatro cavaleiros do apocalipse" abrem as portas para que segmentos da sociedade com poder financeiro e bélico comecem a questionar o Estado brasileiro tal como pensado e positivado em nossa Constituição Federal de 1988. Ao pensarem dessa forma, passam a desconstruir gradualmente as bases do Estado Democrático de Direito tal como conhecemos pela Lei e pela doutrina, levando à desordem e ao caos social. E assim, tal como numa trama bélica que mescla elementos de Sun Tzu e Maquiavel, quem coordena a ordem por trás desse caos autoinduzido detém o domínio, ainda que difuso, sobre toda a sociedade brasileira.


Dessa forma, o impeachment de Bolsonaro deixou de ser uma opção e passou a ser uma obrigação para uma sociedade que pretende se enxergar e se desenvolver como tal durante muito tempo. Sem isso, Bolsonaro continuará se associando às forças políticas dominantes deste país e continuará testando, provocando e desconstruindo as instituições que constituem o Estado Democrático de Direito, até transformar o Brasil numa teocracia governada segundo normas e valores medievais. Como bem disse Jesus Cristo nas Sagradas Escrituras: "ouça quem for capaz"! Afinal de contas, esse novo já mostrou que não passa de uma coxinha velha.


Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!

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©2020 por Pedro Papastawridis em: Blog do Papa (blogdopapa.com).

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