Para quem sabe ler, um pingo é letra!
- Pedro Papastawridis

- 31 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Ao longo desta semana, o Brasil experimentou mais um pouco do gosto amargo do patrimonialismo das forças políticas que governam o país. Das críticas do advogado Augusto Aras ao trabalho de combate à corrupção desenvolvido pela instituição que ele representa, passando pela cédula de 200 reais num país onde milhões vivem como menos que isso e terminando no discurso raso de Paulo Guedes em defesa de uma nova CPMF que não é CPMF, o eleitor-contribuinte ficou com a sensação de que a harmonia entre os poderes somente se dá quando é em benefício de Brasília e em detrimento do Brasil.
Comecemos pelas críticas de Augusto Aras ao trabalho que a força-tarefa da Lava Jato vem desenvolvendo. Num estilo bem peculiar de modulação de discurso, que se ajusta conforme o público que quer agradar, Aras deixou o traje de PGR e vestiu o de advogado nas críticas e nas desconfianças que externalizou acerca da maior operação de combate à corrupção da história recente. Para piorar, tais críticas e desconfianças se deram durante uma live com advogados e juristas ligados a alguns dos envolvidos nos escândalos investigados pela Lava Jato.
Se a missão de Augusto Aras à frente do MPU consiste em dividir a instituição para conquistar, nesse ritmo, vai longe!
Outra notícia que ganhou o noticiário e os memes nas redes sociais envolveu um dos símbolos da fauna do cerrado brasileiro, o lobo-guará. Entretanto, não estamos falando de alguma ação promovida pelo IBAMA, pelo ICMBio, ou pelo Greenpeace em defesa desse simpático animal. Falamos da iniciativa do Banco Central de lançar uma cédula de 200 reais (ou melhor, 450 milhões delas), na qual o lobo-guará estará estampado.
Num momento em que milhões de pessoas vivem com menos que 200 reais e em que a economia mundial caminha gradativamente para a digitalização dos meios de pagamento, gastar milhões do contribuinte para imprimir dinheiro grande acabará servindo para satisfazer cachorro grande. Os meliantes que carregam dinheiro em malas e mochilas também devem gostar da iniciativa do Bacen.
Por fim, não podemos esquecer da proposta de novo imposto que já nasceu velho: a CPMF do Paulo Guedes, que jura de pés juntos que não se trata de uma CPMF! O imposto tem cara de CPMF, será cobrado num formato muito parecido com o da extinta CPMF, mas Guedes insiste que não será uma CPMF.
Como estratégia para entubar mais esse tributo, o czar da economia brasileira e seu chefe vêm fugindo dos debates e recorrendo a retóricas rasas, com vistas à socialização de mais uma cobrança entre a massa de contribuintes, enquanto sindicalistas travestidos de empresários e banqueiros recebem um alívio em suas bases tributárias, por meio de desonerações e redução de alíquotas na reforma tributária liberal-socialista de Paulo Guedes.
A julgar pelo que ocorreu na última reforma do sistema previdenciário, em que políticos fisiológicos se beneficiaram com cargos e emendas parlamentares e corporações ligadas ao governo se beneficiaram com reajustes e aposentadorias especiais, enquanto a massa trabalhadora passou a contribuir mais durante mais tempo de serviço, é melhor o brasileiro coçar o bolso para a CPMF que não é CPMF que está por vir.
Eis o resumo desta semana no fantástico mundo de Brasília, que ignora que milhões estão desempregados; milhões vivem de ocupações precárias do ponto de vista de proteção social; milhões vivem nas ruas e em barracos; e que muitos milhões carecem de serviços públicos essenciais. Apesar de todos esses milhões, insistem em querer tributar o brasileiro médio como a Suécia, entregar serviços públicos similares aos do Haiti e tornar a vida da "Corte" brasiliense mais fácil e melhor que a da cúpula do poder em Caracas.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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