Os Guardiões do Crivella, o trilhão de Paulo Guedes e o último baile da República
- Pedro Papastawridis

- 1 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Nos últimos dias, o Brasil tem se mostrado um daqueles países em que só falta a autoridade paga com os impostos da população se declarar a encarnação de Deus na Terra: do déficit das contas públicas na casa do trilhão até os “Guardiões do Crivella”, a normalização do ridículo vai empurrando o país para um abismo cheio de trevas da ignorância, da opressão e da repressão dos direitos fundamentais do ser humano.
Sobre os tão desejados “trilhão” e “déficit zero” de Paulo Guedes, parece que ele conseguiu (e você pagará essa conta durante anos): Para 2020, a Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI) já projeta um cenário de rombo nas contas públicas na casa do trilhão. Foi isso mesmo que você acabou de ler: a diferença entre o que o Poder Público arrecadará e o que ele gastará em 2020 ficará no negativo em quase R$ 1.000.000.000.000,00, o que significa um número com doze vezes (ou catorze, se considerar os centavos) a quantidade de zeros que Paulo Guedes prometeu fazer com as contas públicas já para este ano.
Para que o cidadão (o engenheiro, o médico, o advogado, o engraxate, o padeiro, etc.) tenha um ideia do que isso significa, o Estado brasileiro deixará para cada brasileiro cerca de R$ 5.000,00 de déficit a ser pago. Como a quase integralidade da população não tem R$ 5.000,00 para desembolsar e cobrir esse rombo, o “trilhão do Guedes” será coberto com endividamento cada vez mais caro e difícil de obter. Até chegar o dia em que ninguém vai mais querer emprestar para o Brasil, o que pode ocorrer num futuro próximo (talvez em cinco anos), restando para o país um cenário de terra arrasada nas contas públicas, no bem-estar social e no Estado democrático de Direito tal qual ainda conhecemos.
Paralelamente a isso, vemos o produto interno bruto brasileiro (o PIB) despencar no segundo trimestre deste ano (abril, maio e junho) na comparação com igual período de 2019: 11,4% de queda. Com isso, o PIB anualizado do Brasil já retornou a patamares similares aos de 2009, 11 anos atrás, quando Lula ainda era Presidente e os Bolsonaros ainda se preocupavam somente com a castração química de estupradores e com a legalização das milícias. Pelo visto, Jair Bolsonaro não estava brincando quando disse que o PT voltaria. Pelo menos o PIB de 2020 deve ficar no mesmo patamar da época em que Lula presidia o país.
Por fim, temos o circo de horrores que se tornou a gestão municipal no Rio de Janeiro, com o Prefeito Marcello Crivella colocando aspones (pagos com o seu IPTU e o seu ISS) travestidos de “guardiões da saúde” na porta de hospitais, com o objetivo de inibir a cobertura da imprensa acerca da situação da saúde carioca. Até relatos de intimidação de cidadãos, para que estes não deem entrevistas à imprensa na saída dos hospitais, vêm ocorrendo, numa clara censura que aproxima o Brasil de repúblicas bananeiras como Cuba e Venezuela.
Certa vez, o mestre Zeca Pagodinho cantou que “quem não escuta cuidado, escuta coitado”. E a situação do Brasil caminha nesse sentido do que o mestre Zeca citou sob a forma de um dos clássicos do samba. Não adianta político lançar perfume na fossa, pedir para líder espiritual usar igreja, rádio e TV para vender que o país é uma Wakanda que só existe no filme do Pantera Negra (estrelado pelo saudoso Chadwick Boseman), ou apelar para os “Guardiões do Crivella”. O país caminha a passos largos para um Estado de exceção, onde a República Federativa do Brasil dança o seu último baile democrático, enquanto as castas dos Três Poderes comem lagosta e brindam a queda de um Estado com espumante.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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