E agora, José?
- Pedro Papastawridis
- 31 de out. de 2022
- 3 min de leitura
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
No dia dos 120 anos do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, nada mais oportuno e conveniente que analisar o resultado eleitoral de ontem (30/10/2022) com esses belos versos do gênio Drummond.
Com um pouco mais de 60 milhões de votos, sendo quase 2 milhões a mais que o obtido por Jair Messias Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições para Presidente do Brasil para o período 2023-2026. Será o terceiro mandato presidencial de Lula, que receberá de seu adversário político um país divido politicamente e com grandes desafios socioeconômicos pela frente.
Para começar, Lula terá que sentar-se à mesa com aliados e grupos políticos não alinhados ao Bolsonarismo para desativar alguns gatilhos fiscais que Bolsonaro pode deixar para o sucessor ainda neste ano, tendo somente dois meses pela frente e uma Copa do Mundo no meio disso. No momento, estão em andamento as discussões legislativas acerca da Lei Orçamentária Anual de 2023 (LOA-2023), o que exigirá de Luiz Inácio uma costura política rápida e precisa para começar o próximo ano sem sustos e com alguma gordura orçamentária capaz de viabilizar projetos e ações governamentais.
No âmbito da economia, Lula terá que fazer o que o Presidente Bolsonaro nunca se dispôs a fazer pelas classes C, D e E: recompor o poder de compra dos mais humildes, por meio da estabilidade de preços e do ganho real na renda do trabalhador. Para tanto, Poderes Executivo e Legislativo terão que avançar numa reforma tributária que reduza a tributação sobre a renda, além de desonerar a tributação sobre folha de pagamento das empresas. Isso sem desconsiderar uma política de valorização do salário mínimo com ganho real sobre a inflação.
Além exposto acima, Lula terá um desafio muito difícil envolvendo a economia informal do país, que absorve quase metade da população economicamente ativa nacional, diminui a arrecadação de tributos, coloca o trabalhador informal numa situação de vulnerabilidade por estar à margem do sistema previdenciário e desestimula empresas a investirem em setores onde a competição com o informal é muito grande. Para tanto, o avanço do MEI e do Simples Nacional sobre a informalidade serão fundamentais para combater um mundo paralelo que cresce à custa do esvaziamento da economia legalizada.
Na questão social, Lula terá que aprimorar programas de transferência de renda, com foco no estímulo à saída desses programas rumo ao mercado de trabalho. Afinal de contas, o melhor programa de distribuição de renda de que um país dispõe é a geração de postos de trabalho. Ademais, o próximo governo terá que buscar o equilíbrio entre crescimento econômico, justiça social e responsabilidade ambiental, a fim de restabelecer a credibilidade do país no cenário internacional e atrair investimentos para a formação bruta de capital fixo e o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis.
Por fim, Lula terá que buscar a pacificação e a harmonia entre os Poderes, de maneira a fortalecer o Estado Democrático de Direito e, assim, dispor de uma vacina para lidar com possíveis sabotagens de opositores raivosos e movimentos separatistas orquestrados por quem não aceita perder nas urnas. Afinal de contas, o que torna uma democracia forte e próspera são instituições de Estado fortes e que operam em perfeita sintonia com a Lei e a Ordem.
Isso posto, o Blog do Papa parabeniza Luiz Inácio Lula da Silva por sua eleição, deseja sabedoria ao novo governo no trato da coisa pública e saúda o povo brasileiro pela festa da democracia promovida nas urnas. Um forte abraço a todos e fiquem com Deus! Quanto a Jair Messias (com a devida licença poética ao mestre Carlos Drummond):
E agora, Bolsonaro?
A mamata acabou,
a luz apagou,
o Centrão sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Bolsonaro?
e agora, bolsonaristas?
vocês que são sem nome,
que zombam dos outros,
vocês que fazem badernas,
que odeiam, protestam?
e agora, bolsonaristas?
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