Bônus demográfico e terras raras: dois bondes econômicos que o Brasil vem perdendo
- Pedro Papastawridis

- 17 de jan. de 2022
- 3 min de leitura
Muito se fala sobre o quão rico de recursos o Brasil é, mas pouco se fala sobre o quão falho nosso país tem sido em aproveitar oportunidades com responsabilidade. E dois exemplos disso são o bônus demográfico, fenômeno em que a população economicamente ativa (em idade de compor a força de trabalho nacional) supera a população economicamente dependente, e a cadeia de valor das terras raras.
Num momento em que milhões de brasileiros deveriam estar inseridos no mercado de trabalho formal, contribuindo com o desenvolvimento econômico e a formação de poupança nacional de longo prazo (previdência), o elevado desemprego, o subemprego e a informalidade desperdiçam o potencial econômico do bônus demográfico. Em vista disso, o Brasil caminha para uma situação em que, ao se tornar um país de população envelhecida como Japão e Europa Setentrional, pouco terá acumulado em recursos para formação bruta de capital fixo e para a seguridade social, exigindo reformas previdenciárias cada vez mais frequentes e restritivas de direitos.
Em suma, o Brasil prejudica o futuro do próprio povo ao deixar passar o bonde do bônus demográfico.
No que tange às terras raras, o termo pode soar estranho para um país de dimensões continentais como o nosso, mas se refere a um conjunto de elementos químicos que, embora abundantes na natureza, são encontrados de maneira dispersa em minérios. Dentre esses elementos temos o cério, o európio, o lantânio, o neodímio e o disprósio.
Por se tratar de um conjunto de elementos que costumam apresentar baixa concentração nos minérios dos quais são extraídos, torna-se custosa a mineração, extração, separação e produção desses elementos como insumos para outras indústrias. Porém, a aplicação das terras raras na indústria é variada e o efeito multiplicador sobre o faturamento a jusante nas cadeias de valor que esses elementos atendem é alto. Alguns exemplos de cadeias de valor que demandam as terras raras são:
Produção de catalisadores automotivos;
Separação de componentes do petróleo;
Telas e monitores;
Equipamentos para geração de energia solar e eólica; e
Dispositivos laser e raios-X.
Atualmente, as principais reservas mundiais de terras raras identificadas estão localizadas na China, no Brasil e no Vietnã, sendo o Dragão Asiático o maior produtor de elementos químicos das terras raras, seguido de longe por Austrália e Estados Unidos. No tocante à produção brasileira desses elementos, atualmente ela é tímida, devido à forte concorrência chinesa, aos altos custos envolvidos na produção desses insumos e ao desinteresse nacional em desenvolver a produção desses elementos para reduzir a dependência das importações chinesas.
Segundo o professor Fernando Landgraf, da Escola Politécnica (Poli) da USP, o mercado mundial de terras raras movimenta cerca de US$ 5 bilhões/ano. Isso ajuda a entender o desinteresse nacional em desenvolver a produção local de terras raras, mas também revela uma falta de visão estratégica em relação à importância desses elementos químicos, tornando a indústria nacional dependente da importação de insumos que ajudam a abastecer setores da economia global que chegam a movimentar trilhões de dólares todos os anos.
Somado com o bonde do bônus demográfico, a falta de visão estratégica em relação à mineração, extração, separação e produção de terras raras pode resultar num cenário de escassez de alguns itens industriais que, a médio e longo prazos, acabará se refletindo no preço de produtos acabados que empregam esses insumos e, por conseguinte, em pressão inflacionária para o consumidor final, tal como temos visto em relação às cadeias de valor que demandam semicondutores. Em síntese, está na hora de o Brasil sair da letargia e embarcar no bonde da independência econômica.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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