Bolsopetismo: a faceta nefasta do sistema político brasileiro
- Pedro Papastawridis

- 5 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Quando Bolsonaro foi escolhido para assumir a Presidência da República, a expectativa de grande parte dos mais de 57 milhões de pessoas que votaram nele era a de que o legado da Lava Jato fosse ampliado e o combate à corrupção se tornasse uma política pública do então Presidente eleito. Porém, o que se viu até aqui no atual governo lembra muito do lulopetismo que Bolsonaro prometeu combater na política e no trato da coisa pública.
Para começar, o patrimonialismo continua o mesmo. Só mudou o CPF de quem o promove. Com o apoio de coronéis políticos e de políticos coronéis, Bolsonaro vem se mantendo no poder e avançando com seu projeto de poder. Até os aliados fisiológicos de Bolsonaro são os mesmos de Lula, a começar pelo encalacrado com a Justiça Roberto Jefferson e por um tal “Partido Progressista”.
Quanto ao conchavo com corporações, saem os sindicalistas de Lula e entram os sindicalistas da bala, do boi e da Bíblia. São esses três Bs que mais se beneficiam das medidas governamentais de Bolsonaro e das reformas estruturais em curso no Congresso Nacional, enquanto o povo paga a conta com mais contribuições previdenciárias, mais tempo de serviço e mais uma CPMF que está por vir, sendo esta conduzida por Paulo Guedes, que jura com sua retórica de circo que não se trata de uma CPMF.
Por fim, não podemos esquecer da militância raivosa, que só mudou de cor de camisa e de Messias, mas que mantém o viés ideológico e o assassinato (ou “cancelamento”) de reputações de opositores, sendo a Lava Jato e Sérgio Moro o principal ponto de intersecção do ódio de lulopetistas e bolsonaristas. Afinal de contas, se existem três grupos de pessoas de que meliantes não gostam é de policiais, procuradores e juízes honestos e competentes.
Certa vez, Sun Tzu escreveu que um dos elementos para o sucesso numa guerra é a capacidade de comando de um exército, o que se soma à influência moral de quem governa, ao clima, ao terreno e à doutrina preponderante. Esse comando, ainda Sun Tzu, deve estar imbuído dos seguintes atributos: sabedoria, sinceridade, humanidade, coragem e rigor.
Quando comparamos os atributos necessários a quem comanda um exército com o que Bolsonaro oferece, vemos que o atual Presidente da República está muito aquém de uma liderança capaz não só de livrar o Brasil dos impactos da pandemia de Covid-19, mas também de conduzir o país ao desenvolvimento em bases sustentáveis. A Amazônia que o diga...
Para começar, falta sabedoria em Bolsonaro, visto que ele ignora o estado em que o país se encontra e o papel de um Presidente num Estado Democrático de Direito. Ele ataca e avança sobre instituições independentes e crê que parlamentares, magistrados e membros do Ministério Público devem se subordinar aos seus desígnios, seja por cooptação, seja por intimidação.
No que tange à sinceridade que ele carrega, ela é tão vazia e desconexa quanto as passagens bíblicas que ele cita reiteradamente, como se fosse alguém que se escora nas Sagradas Escrituras e no cristianismo para ocultar o seu vazio espiritual.
Em relação à humanidade que um comandante deve portar, Bolsonaro despreza esse atributo, na medida em que promove “rolezinhos” de moto e helicóptero e passeios de jet ski em meio à comoção nacional com as quase 100.000 mortes por covid-19 e com o empobrecimento gradual das classes C, D e E.
Quanto à coragem de Bolsonaro, ela é tão vaga quanto seu discurso em defesa da saúde. Quando instado a se manifestar sobre o combate ao inimigo invisível do Covid-19, joga a responsabilidade no colo de prefeitos, governadores, parlamentares e ministros do STF, enquanto passeia pelas ruas de Brasília rodeado de seguranças e bajuladores a preço e prazo fixos. Afinal de contas, os covardes não cospem para cima, pois têm medo do que vai voltar de lá. Preferem cuspir para baixo, pois creem que as formigas não serão capazes de cuspir de volta.
No tocante ao rigor de Jair Bolsonaro, ele é dúbio! Posa de poderoso e rigoroso perante a mídia e seus bajuladores, mas abaixa a cabeça para pedidos e acordos com políticos patrimonialistas, tudo em prol da permanência e de uma pretensa perpetuação no poder, tal como Hugo Chávez fez na Venezuela, quando comprou políticos, magistrados e generais desprovidos de alma, mas providos de ganância!
Em resumo, eis a faceta nefasta de um bolsopetismo que se alojou no poder. E a conta disso, somos nós brasileiros que pagamos, a começar pela CPMF de Bolsonaro e Paulo Guedes, que também já foi de Lula! Numa democracia, dar um voto para alguém não é dar carta branca para malfeitos, e sim acreditar que o escolhido representará a melhor escolha para o país num determinado momento. Quem vota e paga tributos ao Estado brasileiro tem o poder de escolher e o poder para fiscalizar, cobrar e, se for necessário, destituir quem foi eleito.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!





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