USAID virou URSSAID? O que Trump e Putin pretendem fazer com o mundo?
- Pedro Papastawridis
- 11 de mar.
- 3 min de leitura
O ano era 1987. Enquanto as bolsas americanas sofriam grandes perturbações e a Guerra Fria se encaminhava para um desfecho com a Perestroika e a Glasnost implementadas por Mikhail Gorbachev, um jovem empresário americano viajava para Moscou a convite do então embaixador da URSS nos Estados Unidos, Yuri Dubinin, a fim de discutir negócios no setor hoteleiro local.
Quem era esse empresário? Ninguém menos que Donald Trump, atual Presidente dos Estados Unidos.
Alguns defensores do atual mandatário estadunidense dirão se tratar somente de mais uma viagem executiva de um homem que tem faro para boas oportunidades de negócios, sobretudo num momento em que a União Soviética passava por um processo de reestruturação político-econômica que resultou no fim da URSS em 1991. Porém, parece que essa viagem marcou profundamente Donald Trump, a julgar pela forma subserviente com que ele trata os interesses russos em relação à ocupação da Ucrânia e ao desgaste da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Para aumentar as suspeitas entre os laços históricos de Donal Trump com Moscou, recentemente um ex-oficial da KGB (atual Serviço Federal de Segurança da Rússia, o FSB) afirmou que o presidente dos Estados Unidos fora recrutado pela KGB em 1987, recebendo o codinome “Krasnov”.
A afirmação foi feita no perfil de Facebook de Alnur Mussayev, ex-chefe da inteligência do Cazaquistão (uma das repúblicas integrantes da URSS em 1987), que alega ter servido na 6ª Diretoria da KGB em Moscou, atuando no suporte de contrainteligência econômica.
Coincidência ou não, Putin e Trump sempre demonstraram respeito e admiração recíprocos. Mesmo com Trump conquistando as eleições à Presidência estadunidense em dois momentos conturbados nas relações entre Estados Unidos e Rússia: dois anos após a ocupação russa da Crimeia (ocorrida 2014) e (coincidentemente) dois anos após a atual invasão russa à Ucrânia.
Desde que foi eleito novamente Presidente dos Estados Unidos, Trump vem agindo com desprezo em relação a aliados históricos e com simpatia aos interesses russos. Basta vermos a forma assimétrica com a qual o mandatário estadunidense trata as relações comerciais entre seus parceiros do NAFTA (México e Canadá) e União Europeia, se comparados com a Rússia, que nega a soberania e a autodeterminação do povo ucraniano. Ao mesmo tempo em que Donald Trump ameaça nações amigas com taxas de importação elevadas e até uma possível anexação de territórios do Canadá e Groenlândia (pertencente à Dinamarca), silencia em relação ao massacre que tropas e armamentos russos promovem em solo ucraniano.
Aliás, Trump só se interessa pela Ucrânia quando o assunto é explorar as terras raras do país europeu, sem que haja quaisquer contrapartidas de garantia da defesa e soberania ucranianas diante da ameaça russa. Para o Presidente dos Estados Unidos, só interessam os recursos minerais necessários à competição tecnológica que Washington vem promovendo contra a China.
Para tornar o cenário ainda mais desolador para os aliados de OTAN, Trump e seu lacaio Elon Musk, magnata controlador de algumas das principais empresas globais dos setores de tecnologia da informação e aeroespacial, resolveram se associar à narrativa dominante no Kremlin de que a principal ameaça global é a OTAN, e não os interesses expansionistas de Moscou. Para tanto, Trump vem acusando a Ucrânia (pasmem!) de não querer o fim da guerra que a Rússia começou e Elon Musk vem ativando uma extensa teia de perfis e influenciadores nas redes sociais para descredibilizar a OTAN e o esforço da Ucrânia de se defender, além de atacar Chefes de Estado e de Governo de alguns países da aliança, como Reino Unido, França e Polônia.
Diante do exposto, fica nítido que o misto de estelionato, desinformação e intimidação que Trump e seus lacaios “neoconservadores” vêm promovendo contra as sociedades ocidentais não só não representa os anseios de boa parte dos estadunidenses que elegeram Donald em 2024, mas também gera instabilidades geopolíticas e econômicas globais que possuem enorme potencial para produzirem um cenário de estagflação em boa parte dos países envolvidos, sobretudo os Estados Unidos, devido ao isolamento em que se coloca diante dos parceiros de OTAN e à submissão dos interesses de Washington aos interesses de Moscou.
Quanto ao Brasil, já fragilizado pelo alto grau de endividamento das empresas e das famílias e por uma bomba fiscal que ameaça explodir nos próximos 5 anos (ceteris paribus), o momento é de cautela e de somar forças com os demais países na ONU para mitigar essa tensão que Trump e Putin vêm inserindo no tabuleiro geopolítico global, antes que o fantasma de 1929 retorne trazendo consigo outros fantasmas que se sucederam nos 10 anos subsequentes.
Um forte abraço a todos e fiquem com Deus!
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